24 de maio de 2012

CINEMA: Drive



Certa vez, um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio e fez um pedido: "Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?" O sapo respondeu: "Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou morrer afogado." Disse o escorpião: "Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos." Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio. No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo. Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: "Por quê? Por quê?" E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza."

Provavelmente você deve conhecer a famosa parábola que permeia todo o filme Drive (2011), do diretor Nicolas Winding Refn (Valhalla Rising, Bronson), uma intimista e melancólica  história que transforma a vida de um piloto de carros em uma poesia urbana violenta sobre controlar seus instintos ou se entregar a eles. Mais do que apenas possuir uma jaqueta com o animal peçonhento da parábola, o personagem sem nome vivido pelo ator Ryan Gosling, conhecido apenas como "Driver", possui os instintos e atitudes do animal, mas vive reprimindo sua personalidade agressiva, mas, por vezes, tendo rompantes imprevisíveis de puro ódio e violência.


Já que se trata de um filme cujo protagonista dirige carros como dublê de astros e nas horas vagas serve como piloto de fuga contratado para determinados assaltos,  a metáfora mais óbvia e urgente é que temos um personagem com o freio de mão puxado na maior parte do tempo, reprimindo e evitando emoções e relacionamentos, e que se mostra realmente completo apenas quando está dirigindo, dando vazão a toda sua violência. É quando o personagem, que parece anestesiado e sem emoções, revela sua verdadeira natureza metódica, na velocidade de um trocar de marchas. 

É espantoso o lirismo que o diretor encontra quando decide deixar os diálogos de lado em favor da troca de olhares, que quando bem aplicada, como é o caso do filme, fala por si só. Tudo é muito bem pontuado por uma trilha sonora incrível, que abusa de sintetizadores para transmitir os sentimentos que só quem já dirigiu sozinho a noite pode entender. A cena do elevador por exemplo, tem uma violência crua misturada com um romantismo noir que resulta em umas das cenas mais poéticas vista nos últimos anos. Além disso, a cena do martelo e todas as cenas em que o personagem dirige pela cidade, merecem destaque pela excelente fotografia  pop e "urbana" e a direção de arte que remete ao anos 90 imediatamente.


Drive é desses filmes que se você não prestar muito atenção, passa batido como um filme de ação, mas que se apreciado da forma correta se mostra uma poderosa narrativa sobre aceitar ou não o que se é. Um tema recorrente, mas que ainda rende boas histórias.

Nota: 9,0 







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